Sempre quis. Todos queremos. Mesmo aqueles, entre nós, que
dizem que não. É um desejo comum. Alguém. Que nos ame. Como o amor deve ser.
Como ele se apresenta nas páginas dos livros e nas telas de cinema. Mas melhor.
Melhor do que o melhor. Melhor ainda. Queremos todos, de alguma forma, não
importa a cor com a qual pintamos o desejo. Esse amor.
Eu também quero. Sempre quis. Alguém que decidisse, todas as
manhãs, olhar para mim e dizer que, mesmo antes de lavar as remelas e pintar o
rosto, eu sou bonita. E que me sorrisse, de olhos ainda ensonados, como se
visse, em mim, um milhar de sonhos concretizáveis e de possibilidades em
aberto.
Alguém que me amasse assim. A ponto de dizer que ia lutar,
dia após dia, a cada segundo. Com um objetivo. Só um. O de me dar o que eu
preciso. O que eu quero. Até aquela extravagância meio louca, sem importância
alguma, apenas para me fazer um pouquinho mais feliz.
Eu também quero. Sempre quis. Que não houvesse barreiras nem
desistências na luta. E que fosse eterno. E que fosse real. E que fosse mais
forte do que qualquer vento. Mais resiliente do que qualquer palavra. Mais real
do que a morte.
Alguém que me amasse assim. Todos os dias. Sem excepções e
sem tirar folgas do amor, só porque ocasionalmente ele pode doer. Sem resvalar
nos imbróglios fugazes do tempo e sem questionar, nem por um segundo, a pureza
do sentido que se entrega e se demora nas estradinhas da eternidade.
Eu quero. Sempre quis. Esse amor. O de alguém que me
conhecesse. Mesmo nos meandros das coisas que não digo. Que soubesse todas as
minhas ideias e todos os meus pensamentos, sem os julgar. Que conhecesse todos
os meus pecados e, ainda assim, não me condenasse pelos crimes quotidianos. Que
ousasse entrar nas cavernas mais escuras do meu peito para descobrir todos os
recantos empetrecidos que lhe ornamentam as paredes.
Esse amor. Era esse amor que eu queria. O de alguém que,
olhando dentro de mim, desejasse ser a melhor pessoa do mundo. O de alguém que
não se importasse de andar pelos caminhos das silvas e dos espinhos para
alcançar os meus sonhos. O de alguém que quisesse estar comigo mesmo quando a
minha companhia não é prazenteira.
Era esse amor. O de alguém que ficasse sempre. Para sempre.
Sem que eu tivesse dúvidas disso. E que me tolerasse o azedume. E que me
acautelasse os medos explosivos. E que me acarinhasse as cicatrizes que ficaram
pelas feridas. Alguém que me amasse, mais do que as perfeições – se elas
existem! – justamente os cortes, cicatrizados ou não, por saber a força que
modelou as batalhas que mas infligiram. E que, da minha amargura, fizesse arte.
E que do meu riso fizesse alento. E que dos meus passos fizesse caminho.
É esse amor que eu quero. E nunca quis outra coisa. Nunca
quis querer outra coisa. Só esse amor pleno, intemporal, incontestável,
inabalável e incondicional, até à morte. E sabes? Não importa se não me amares
assim. Eu amo-me assim.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
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