Eu fiz uma lista. Duas. Três. Gosto de fazer listas. E
pus-te nelas.
Começou por ser uma lista de sonhos para amanhã. Sobre as
mãos que viríamos a dar, sobre o mar que veríamos em olhares de contentamento,
sobre os dedos que enlaçaríamos, cheios de desejo pela vida. Uma vida que só
seria plena se a lista nos incluísse aos dois.
Disseste que eu era a metade de ti que faltava e eu disse-te
o mesmo. Sussurrámos. Enquanto enumerávamos as estrelas e lhes dávamos nomes.
Uma delas – determinei eu, à revelia da NASA – era tua. Eternamente tua. Porque
as estrelas são de todos e te dei a minha parte. Então, tinhas sobre ela poder
de decisão.
Essa primeira lista que eu fiz, sobre tudo o que não éramos
e podíamos vir a ser, foi uma espécie de trampolim do sonho para a realidade.
E, então, fiz outra lista.
A minha segunda lista falava de perfeição. Em pontinhos
muito concretos dizia que sabia que eu tinha chegado a um ponto de entendimento
onde o próprio ato de fazer listas poderia não fazer sentido.
Não tínhamos espadas. Nem revólveres. Tínhamos as mãos
dadas. Poemas nos olhos que sorriam. E éramos crianças a brincar ao faz de
conta, acreditando ser mais fortes do que um exército e estar prontas para
enfrentar, da vida, as agruras.
Rasguei essa lista. Rasguei-a porque acreditei que éramos
donos do mundo e não nos faltava nada. Não fiz listas durante muito tempo.
O tempo. Foi o tempo que me levou de volta. “Apanha agora os
cacos dessa folha de papel e os do teu coração!”. Uni-los era impossível.
Então, escrevi outra lista. Nela, escrevi os meus motivos para ir embora e os
meus motivos para ficar. O meu motivo para ficar. Tão forte, tão débil; tão
certeiro, tão imaturo; tão quebrável.
Fiz essa lista para te dizer: eu sei que dói. Eu sei que
custa. Eu sei que não é tão perfeito como a estrela que roubei do céu. Mas eu
amo-te e pode ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem. Amo-te. Amo-te. Amo-te.
Não ficou tudo bem. E, hoje, sentada entre quatro paredes
cheias de sombra, nas ameias recolhidas da persiana, sinto entrar o toque do
vento morno do verão. Não vai ficar tudo bem.
Esta é uma lista que podia estender-se por folhas e dias e
universos. Não faltarão palavras. Nem sentimentos. Talvez falte apenas a
vontade que me move pelos dias e me faz capaz de as escrever.
Se esta é uma lista sobre o que falta, eu poderia usar esta
vida e as próximas com ideias e pensamentos.
Mas existe muito mais espírito de síntese na dor do que na
felicidade. Porque, quando falar magoa, evitam-se palavras e pensamentos.
Procura-se outra coisa, ainda que ela própria seja dor. Para camuflar dor com
dor, esperando que ela pare de doer; tal como fazem os sábios dos ventos nos
incêndios, quando erradicam fogo com fogo, esperando que pare de arder.
E a minha lista de um é bastante simples, para dizer o que
foi e o que é. Quando tu estavas, eu tinha tudo. Quando tu estavas, estragámos
tudo. E, agora que não estás, falta tudo.
Enumeremos o meu coração. Que já foi um. Elogiemos o meu
coração. Que já foi teu. Enumeremos agora. O coração. De cacos no soalho. E nem
a madeira é real. Flutuando. No centro de uma casa que não é um lar. E de uma
vida onde falta tudo.
Tu-do.
Tu.
Uma vida onde faltas tu.
Esta é a lista. É uma lista muito breve. De tudo o que eu
preciso. E nunca mais vou ter.
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