Há nuvens no horizonte. E nos meus olhos que nunca choram.
Porque é que eles não choram?
Desespero de fragilidade. E mãos de metal. Clicando
mecanicamente nas teclas. Procurando sentidos, sem sentir. (Ou será por sentir
demais?). Oceanos díspares no centro de mim. Que me procura e me arrebata. E
desassossego onírico nos traços mais concretos da minha insensatez. Robustez de
fragilidade. E mãos de madeira. Desenhando traços mais ou menos díspares, que
navegam pelos ares. Nuvens no meu olhar. Nuvens no meu pensamento. E uma
história calada.
Tenho segredos. Os meus segredos são uma espécie de sol
matinal que, ao refletir no mar dos meus anseios, parece sempre lua. E no manto
luminoso do meu teto há resquícios da noite mais escura, que me serve de chão.
Permaneço, caótica, entre ambos. Com tanto no peito e tão pouco no semblante.
Quem passa por mim diz que sou forte. Enaltecem-me a
coragem, sem saber os medos que povoam o meu peito. E aqueles que povoam as
nuvens dos meus olhos. E as nuvens do outro lado da janela, sobre o horizonte.
Toda eu sou temor de algo ou por alguém. Mas é tão difícil ver o medo sob a
armadura cutânea do meu sorriso, que ninguém o vê. Exigiria um mergulho em
profundidade em mim. E quem se aventura pelas estradas penosas desse inferno,
onde só eu descobri os segredos da sobrevivência e do equilíbrio?
Há nuvens no horizonte. E nos meus olhos. Mas os olhos estão
secos. Como um céu nublado que não chove, por recusar o Inverno. A história das
nuvens dos meus olhos tem muitas nuances. Gotas etéreas que falam sobre tempos
idos e tempos que regressam amanhã, apenas para atormentar. Cada gota é uma
mágoa. E cada mágoa é um poema que termina ali. Há quem chore lágrimas, eu
choro textos. E é neles que coloco a infinitude do que se enraíza dentro de
mim. As minhas lágrimas não se vêem. As minhas lágrimas lêem-se. As minhas
lágrimas não se limpam. Fecham-se no canto superior direito do ecrã.
As nuvens dos meus olhos não choram. Escrevem. Ponteando o
céu do olhar com farrapos de emoção que se dizem estação terminal na viagem ao
caos de mim. A história das nuvens é uma história de aqui e de ali. Minha e de
todos os outros. Minha para todos os outros.
Desculpem se os meus olhos são reflexo outonal da noite no
oceano da vida. E se as nuvens não chovem. E se o caos não ecoa. Eu não nasci
para chorar. Nasci para escrever.
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