terça-feira, 23 de outubro de 2018

As nuvens



Há nuvens no horizonte. E nos meus olhos que nunca choram. Porque é que eles não choram?


Desespero de fragilidade. E mãos de metal. Clicando mecanicamente nas teclas. Procurando sentidos, sem sentir. (Ou será por sentir demais?). Oceanos díspares no centro de mim. Que me procura e me arrebata. E desassossego onírico nos traços mais concretos da minha insensatez. Robustez de fragilidade. E mãos de madeira. Desenhando traços mais ou menos díspares, que navegam pelos ares. Nuvens no meu olhar. Nuvens no meu pensamento. E uma história calada.

Tenho segredos. Os meus segredos são uma espécie de sol matinal que, ao refletir no mar dos meus anseios, parece sempre lua. E no manto luminoso do meu teto há resquícios da noite mais escura, que me serve de chão. Permaneço, caótica, entre ambos. Com tanto no peito e tão pouco no semblante.

Quem passa por mim diz que sou forte. Enaltecem-me a coragem, sem saber os medos que povoam o meu peito. E aqueles que povoam as nuvens dos meus olhos. E as nuvens do outro lado da janela, sobre o horizonte. Toda eu sou temor de algo ou por alguém. Mas é tão difícil ver o medo sob a armadura cutânea do meu sorriso, que ninguém o vê. Exigiria um mergulho em profundidade em mim. E quem se aventura pelas estradas penosas desse inferno, onde só eu descobri os segredos da sobrevivência e do equilíbrio?

Há nuvens no horizonte. E nos meus olhos. Mas os olhos estão secos. Como um céu nublado que não chove, por recusar o Inverno. A história das nuvens dos meus olhos tem muitas nuances. Gotas etéreas que falam sobre tempos idos e tempos que regressam amanhã, apenas para atormentar. Cada gota é uma mágoa. E cada mágoa é um poema que termina ali. Há quem chore lágrimas, eu choro textos. E é neles que coloco a infinitude do que se enraíza dentro de mim. As minhas lágrimas não se vêem. As minhas lágrimas lêem-se. As minhas lágrimas não se limpam. Fecham-se no canto superior direito do ecrã.

As nuvens dos meus olhos não choram. Escrevem. Ponteando o céu do olhar com farrapos de emoção que se dizem estação terminal na viagem ao caos de mim. A história das nuvens é uma história de aqui e de ali. Minha e de todos os outros. Minha para todos os outros.


Desculpem se os meus olhos são reflexo outonal da noite no oceano da vida. E se as nuvens não chovem. E se o caos não ecoa. Eu não nasci para chorar. Nasci para escrever.





Sigam também o meu instagram, aqui. 



Sem comentários:

Enviar um comentário