O meu pai ensinou-me. Por isso, provavelmente, não é culpa
de ninguém. Senão minha. Que não aprendi. O mundo é física. Tudo é física. Tudo
se rege pelas leis inevitáveis e incontornáveis. Dela. Da física. Não é culpa
de ninguém. Senão minha. Que não aprendi.
Pedi-te. Tenho este amor. Sou toda amor. E o amor que sou e
tenho é todo teu. Por isso, para que ele não me pese. Para que ele não deixe
marcas vincadas na pele da minha alma. Por favor. Guarda-o. Coloca-o nesse
coração dourado.
Pedi-te. E anuíste.
O sentido das coisas que não se vêem reside nas coisas que
se sentem. Vi-te, atabalhoadamente, atirar o meu amor para dentro do peito. E
vi sempre que ele te vertia. E notei-te o esforço intemporal para colocares
dentro de ti os seus tentáculos de sonho.
Não notaste o peso de imediato. Primeiro, carregares o meu
amor, meio por dentro, meio de arrasto, foi simples. Sorrias. Mas depressa
começaste a perceber que o meu amor, dentro e fora de ti, era uma espécie de
sombra. E escureceu-te o olhar. Escureceram-te as mãos. Essas, com as quais
tentavas agarrar os excessos do amor e colocá-lo de volta no peito.
Eu pedia. Tenho este amor. Sou toda amor. E o amor que tenho
e sou é todo teu. E tu tentavas, desesperado, colocar dentro de ti esse pedaço
inusitado de mim. Também tu gostavas de acreditar que ele era teu.
O amor pesa. Desculpa. A diferença subtil entre leveza e
leviandade tomou forma nos espaços tentaculares do meu amor. Talvez ele se
tenha agarrado à tua pele. Tolhendo-te os movimentos. Prendendo-te. O meu amor,
esse opressor, não queria impedir-te. Queria apenas evitar cair no chão como,
naquele tempo, tinham já caído tantas e tantas promessas.
És a minha pessoa. E tu a minha. Para sempre. Sempre e para
sempre. Porque nunca deixei de amar ninguém. Nem eu.
Foste arrancando os ramos secos, penetrantes, desse amor que
se agarrava a ti para não cair, criando raízes dentro do teu peito e
proliferando, qual erva silvestre, pelo resto do teu sistema, pela tua pele,
pela sala que te acolhia.
E eu, que te abraçava, sentia o amor. E pensava que ele era
teu. Não imaginava que abraçasse, nos teus braços, o meu amor por ti.
Mas tu percebeste. E libertaste-te do amor. Do meu amor. Não
é culpa de ninguém. Senão minha. Que não aprendi as leis da física.
Em tempos quis. Muito. Que guardasses o meu amor dentro do
teu coração. Desculpa. Sempre fui mais de emoções do que de racionalidades. Não
entendia as leis da física. Não podes. Hoje sei. Tiveste de procurar um amor
mais pequeno. De o colocar nesse coração dourado. Porque o meu amor, pela sua
dimensão infindável, não cabia.
Sem comentários:
Enviar um comentário