Fotografia de Analua Zoé
Nasces. Cortam uma árvore para te
fazer o berço.
Cresces. Cortam uma árvore para te
fazer um baloiço.
Vais para a escola. Cortam uma
árvore para fazer a tua secretária. Outra para fazer a tua cadeira. Uma centena
para fazer os teus lápis. Um milhar para fazer os teus cadernos e livros.
Chegas a adulto. Aprendes a
conduzir. Cortaram uma floresta para abrir a estrada que atravessas. Derrubam
uma segunda para construir a tua urbanização.
Conheces o amor da tua vida e
casas com ela. Nasce o primeiro filho.
Cortas uma árvore para lhe fazer o
berço.
Cortas uma árvore para lhe fazer o
baloiço.
Leva-lo à escola onde secretárias,
cadernos, cadeiras e lápis são árvores mortas.
E, um dia, morres também. E a
madeira do teu caixão foi outra árvore cortada.
Ao longo dessa vida, foi na árvore
que penduraram o teu baloiço e o do teu filho. E foi a árvore que recebeu as
brincadeiras dos teus intervalos. E foi nela que cravaste as tuas iniciais e as
da mulher com quem virias a casar.
Debaixo dessa árvore, fizeste piqueniques
com a tua família e puseste o teu filho às cavalitas para que atingisse a maçã
e comesse, alegre, o fruto da terra. Na sua sombra, bebeste o aroma das flores
da primavera e o adocicado mel veraneante da frescura.
Curaste as tuas doenças
com os seus compostos. Regaste refeições com os seus frutos pisados.
Respiraste-lhe o ar.
Nasces. Cortam uma árvore para te
fazer o berço.
E és feito de um sem fim de
momentos-árvore onde, vivas ou mortas, te servem ao longo de toda a vida.
Aprendes que és seu dono, sem perceberes
que és seu filho. E deixas. Que cortem.
E ela perdoa-te. Abraça-te. E, por
fim, baixa contigo à terra.
Porque a árvore não conhece a
maldade. Apenas o amor.
Este texto criará raízes na história!
ResponderEliminarFantástico.