Caem. Caem ao chão e desaparecem.
É como se nunca tivessem existido. Não adianta fazer vénias à vida, dobrando
costas para aproximar os olhos míopes do chão, nem andar de joelhos, procurando
debaixo dos móveis com laivos de esperança. Caem. E, quando caem, desaparecem.
Para sempre.
Claro que ninguém aceita. Quando
caem, lá ficamos, de rabo para o ar e cabeça encostada junto ao solo, orelha
com raiz da vida, tentando descobrir o misterioso fenómeno do desaparecimento.
Um Poirot entre os meus neurónios engendra teorias sobre o estranho caso e faz
uma lista de notas sobre todos os potenciais buraquinhos e reentrâncias que
possam albergá-los, camuflá-los ou encobri-los. Mas até esse neurónio, que viu
demasiados policiais, acaba por desistir e voltar às sinapses normais, com um
suspiro.
Fico a imaginar se, algures,
existe uma mão estendida noutro plano para os apanhar. Quando caem. Para os
levar para essa outra dimensão, onde servem para segurar alfinetes de peito e
vivências.
Mas caem. Com frequência e demasiadas
vezes. Quando caem, desaparecem de todo o lado, menos da memória concreta de
dois olhos que viram cair e não sabem explicar como nem para onde.
Caem. Caem no chão e desaparecem.
Por vezes, ainda se ouve o som agudo e metálico quando atingem o solo. Mas é
como se o furassem. Não encontramos mais. E, aos poucos, toda a utilidade que
tinham começa a transformar-se num caos feito de escassez. Como se nunca desse
para fechar o que, tão evidentemente, não foi feito para ficar aberto.
Resta a desistência ou a busca
pelo novo. Porque, quando caem, paz à sua alma. Dali, mais nada virá!
Sentada no chão, ainda deixo os
olhos procurarem um pouco mais, sem sucesso. Suspiro outra vez. Resmungo.
Quando caem não aparecem mais!
Eu sei… era só a parte detrás de
um brinco.
Mas também vale para as
oportunidades.
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