O fruto que nasceu na árvore do mundo foi o mais doce desde há muitos verões. Por isso, cortei-o em gomos muito finos e dei um pedacinho dele a cada pessoa. Toda a gente sorriu. Havia sete mil milhões de pessoas a sorrir. Subitamente, ninguém sentia fome. Todas as doenças sararam. Ninguém sentia frio. Ninguém tinha vontade de fazer a guerra. De lutar na guerra. De fugir da guerra. De lembrar a guerra. A rua era morna. As portas das casas estavam destrancadas. Quartos que há muito serviam de arrecadação foram arrumados e deram espaço aos sem-abrigo. E as pessoas apanhavam outros frutos e distribuíam os gomos umas pelas outras. Quem não tinha fruto, dava pão. Quem não tinha pão, dava poema. Quem não tinha poema, dava canção. Ou peça. Ou auxílio. Ou conforto. Ou cobertor.
A menina olhou para mim, enquanto eu contava esta história. E disse-me: "Oh, mas esse mundo não existe."
E eu disse-lhe. "Tudo o que se diz existe. Tudo o que se escreve existe."
- Até as fadas e os unicórnios?
- Até as fadas e os unicórnios... Até os frutos mágicos...
Ela sorriu, fechando os olhos.
E é por isso, acrescentei, sem que me ouvisse, que a primeira coisa que os ditadores nos roubam é a esperança e a liberdade de expressão.
Trinquei o fruto da fruteira. Não tinha sabor. E o telejornal falou da doença e da fome. Dos desalojados e dos mortos de guerra. Da escassez e da ganância. Tranquei a porta antes de me deitar.
Tudo o que se diz existe. Tudo o que se escreve existe.
Quero o mundo das minhas histórias. Estou farta deste!
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