Antes do Natal, havia o Sol. O Sol que brilhava no céu do
Inverno, fazia promessa em Dezembro: dias mais quentes virão. E vinham. Para
todos. Antes do Natal, havia o Sol.
Com o tempo, o Natal mudou. Mudou de centro, mudou de
ideias, mudou de religião. Em tempos, era feito em honra de um menino. O menino
cresceu. Vestiu encarnado. Usa barbas brancas. Em tempos, era um tempo de
entrega e partilha. Entrega e partilha de emoções, de momentos, de histórias.
Com o tempo, passou a ser um tempo de dar e receber. E mudou o que se dá e
recebe. Hoje, vem dentro de caixas com lacinhos. Em tempos, honrava o Sol. A
vida. Depois a vida de um Deus. Depois o Deus do dinheiro, que se acorrenta ao
senhor de barbas brancas. Mas antes, antes do Natal, antes dos presentes, antes
do consumismo, antes dos sentidos se darem e venderem e embrulharem com papel
colorido e fitinhas luzentes, havia o Sol.
Vem com o Inverno, o Natal. Esse que dizem que é um tempo de
alegria. Nas ruas, eu vejo pessoas apressadas, iluminações coloridas, montras
recheadas e mendigos a pedir esmola. Vejo pessoas a comprar doces, a comprar
brinquedos, a comprar livros e joias e consolas caras. E vejo meninos a tirar
comida do lixo. E, enquanto uns vibram na alegria do Natal, junto a lareiras
acesas, entre risos e gargalhadas, outros deitam-se nas caixas que sobraram sob
o seu tecto de estrelas. E, pelas ruas, o som do silêncio, entrecortado pelo
eco inexistente da partilha que só se dá àqueles que, de alguma forma, têm
Natais todos os dias.
Lá fora, neve ou chova, há quem não tenha mesas cheias,
famílias felizes, agasalhos. Seja Natal ou não, há quem se afogue nos prantos
de uma vida onde a regalia ficou vedada, vendo passar as elites da má sorte,
que se queixam por quase tudo o que não é problema.
É Inverno. E, no Inverno, pesa mais a visão enregelante
daqueles que não têm nada. Mas o Natal mudou. Não é o tempo da partilha. É o
tempo da cegueira. Já não se faz no centro das ruas. Faz-se no centro
comercial. Faz-se no fechar de olhos voluntário que se estende um pouco por
todos nós. Porque ver magoa. E ninguém quer sofrer.
No Natal fala-se de magia. E eu também a vejo. É que, antes
de haver Natal, havia o Sol. E o Sol não se dá mais a ninguém. Nasce para
todos. Antes do Natal, havia o Sol. No meu cantinho quente e privilegiado, é o
seu nascimento que eu celebro. E não tem nada a ver com religião, com
moralismo, com lições de vida. Não tem sequer a ver com textos bonitos e
poéticos. É só que, antes do Natal, havia o Sol. E, enquanto que o Natal não é
para todos, o Sol ainda é.
Marina Ferraz
*Imagem retirada da Internet
Parabéns pelo blog,gatona
ResponderEliminarCorre para o Blog,tem post novinho,unhas da semana e produtinho novo,que por sinal as fotos está bem fofinha :))
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Olá!
ResponderEliminarGostei muito do texto.
Realmente, o Sol quando nasce é para todos. Já o Natal, da forma como o vivemos, actualmente, não está ao alcance de todos.
Cabe a cada um de nós reflectir e levar um pouco de Natal àqueles que não têm o privilégio de saborear este tempo mágico.
Porque o Sol, quando nasce, é para todos, o meu desejo é que o verdadeiro sentido do Natal renasça, para assim ficar ao alcance de todos, todos os dias.