Não vás. Não queiras crescer demasiado depressa. Ainda tens
os olhos recém-nascidos para o mundo. Acreditas que o podes mudar. E talvez
possas. Mas não queiras ir mudá-lo já. Vais ter tempo. O tempo é o que menos
falta num mundo onde falta quase tudo.
Sei que não parece. Sei que a fé abranda o tempo e que
parece que não estás a fazer nada. Mas estás! Estás a preparar-te para mudar o
mundo. Um dia. Outro dia. Mas espera. Antes de segurarem as armas, as tuas mãos
precisam de segurar outras mãos. Antes de abrirem para as conversas formais e
os gritos de guerra, os teus lábios precisam de conhecer a profundidade dos
beijos do verdadeiro amor. Antes de te levarem à distância, os teus pés
precisam de criar pegadas no centro do que te torna tu. Não queiras crescer
demasiado depressa. Não vás.
Não vás. O chamamento é claro mas não é teu. Não queiras que
seja. Não queiras crescer demasiado depressa.
Sei que te deram o sonho. Que o sonho virou semente. Que a
semente ganhou raiz e que ela alastra dentro de ti. Sei que é ela que te brilha
nos olhos. Esses que são recém-nascidos para o mundo e que eternamente desejam
a hora de voar mais longe.
Não vás. Não queiras crescer demasiado depressa. Ainda há
sonhos à espera de te encontrarem na inocência dos anos, enquanto as nuvens que
chovem lá fora são incapazes de te resfriar o coração virgem e intocado. Esses
sonhos esperam encontrar-te aqui, onde guardas a inocência dos anos e a pacatez da infância, a necessidade do afago.
Eu sei que queres ir. Como soa a promessa essa partida! O
mundo já to pede – chamando, em tom de assombro, o teu nome, num sussurro. Ele
chama. Eu ouço. Tu ouves. Queres ir. Não quero que vás. Por favor, ouve antes a
minha voz. Não vás. Não queiras crescer demasiado depressa.
Eu
sei que te falei de concretização. Que te disse que podias ser quem quisesses.
Mas ainda tens muito a aprender. Ainda não te falei das vontades do mundo, de
como elas se sobrepõe às tuas, nem de como se aprende, nas curvas mais sinuosas
do caminho, a superar as decepções com um sorriso no rosto. Eu sei que queres
ir. Lá, onde podes ser quem ainda não és e onde te podes tornar o concreto de
todas as tuas irrealidades. Mas não vás depressa demais.
O
horizonte tem uma tonalidade de ouro e diamante nos teus olhos de safira. E,
nos teus olhos, esses olhos onde vibra a ilusão do que se transforma em desejo
do amanhã, eu vejo a promessa retardada do amanhã que, para ti, nunca mais
chega e que, para mim, se aproxima numa corrida desleal. Quero envolver-te no
manto de pedra dos meus braços e impedir-te de crescer. Selar-te a vida neste
tempo em que se saram os desgostos com um beijo e um pedido de desculpa. E tudo
se esquece. E tudo recomeça, como se houvesse pequenas eternidades de mel no
agridoce dos teus sentidos. Mas, nos teus olhos, reflecte-se o horizonte. E
deles ecoa o chamado que te faz erguer e avançar. Cada passo mais perto da
idade. Cada passo mais longe de mim.
Não
vás. Não ouves. Não queiras crescer demasiado depressa. O sonho. Ali. Vais
crescer. Quero dizer que não estás preparada. Duvido. Questiono. Decido. Quem
não está preparada sou eu! Cresceste demasiado depressa. Vai. Precisas de ir.
Vai mudar o mundo. Mas, por favor, Espera apenas mais dois segundos. Por mim.
Eu vou contigo!
Marina Ferraz
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